No balanço das ondas

Estivemos ali, tão próximos
Tão dentro de tudo
Tão fora do mundo
Olhando o mar

Sentados,
Nos mesmos bancos
Olhando a mesma lua
Pensando na vida
Contando segredos
Olhando o mar

Ficamos ali,
Na noite escura
Sem saber do futuro
Com medo de tudo
Com coragem de amar
Somente ali
Olhando o mar

Fotografia na mente
Mãos dadas, beijos ardentes
Na beira do mar
Na noite escura
Sem saber o que fazer
Quando o sol chegar
Simplesmente
Olhando o mar

No balanço das ondas
Palavras cruéis
De quem tem medo
Medo de mar
Medo de se entregar
Na noite escura
Olhando o mar

Ficamos ali
Vendo o tempo passar
Olhando nos olhos
Dentro da mente
Dentro do peito
E o vento na pele
Pra ficar pra sempre
Olhando o mar

Efeito Caramujo

Mal lhe sai a cabeça da casca
Brilha o sol
Cantam os pássaros
Rega a terra a chuva fértil
Encolhe-se novamente
Na protetora casca
Envelhecida
Sem vida
Sem graça
Mas protetora
Isoladora
Castradora velha casca
Somente casca
A esconder sonhos de Caramujo!

Águas

Sou um rio
Que não me pertence
Que não corre p’ro mar
Que vai p’ra nascente

Sou vertente
- Água corrente
Brota no ar
Corre p’ra serra
Sulc’a terra
Cri’avalanche

Sou um rio
Atrás do jardim
Passando por mim
Vem um furacão
Passa um avião
Nas pétalas do meu jasmim

Espelho d’água
Sem sombra de Narcisos
Sem passos n’areia
Líquido corrente na veia
Traços da vida

Recaídas

Hoje
Somente hoje
Estou com saudades
Saudades de dias passados
De dias ensolarados
De dias nublados
De abraços apertados

Hoje estou com saudades
Mas daquelas que apertam
Daquelas que doem no peito
Que trazem o mar para os olhos
Que fazem pensar

Hoje
Hoje eu queria amar
Sorrir, e talvez ainda cantar
Mesmo desafinada
Escancarada
Vendo o sol brilhar

Hoje
Eu queria ver a fotografia
Queria ler a poesia
Mesmo ainda não escrita
Só comentada, numa cama desfolhada
Só pra ver o tempo passar

Hoje eu queria ouvir a voz
Sonora, em gargalhada
Suave, sussurrada
A voz tão amada
Hoje estou com saudades!

Efeito Caramujo

Mal lhe sai a cabeça da casca

Brilha o sol

Cantam os pássaros

Rega a terra a chuva fértil

Encolhe-se novamente

Na protetora casca

Envelhecida

Sem vida

Sem graça

Mas protetora

Isoladora

Castradora velha casca

Somente casca

A esconder sonhos de Caramujo!

Amor

Nosso medo foi avançar demais
correr p’ro desconhecido
fazer o que não era permitido
sonhar um sonho proibido
por caminhos vagos e perigosos

Usamos palavras diferentes
pra falar da mesmas coisas
pisamos em ondas profundas
éramos visitantes de nós mesmos
buscávamos luz no profundo escuro
e não víamos a total falta de sentido

E assim,
cometíamos a loucura de nos perder de amor
e não compreendíamos que
para um amor assim – só havia uma trilha
sem volta, sem saída – que falava de poesia
a contar nossa paixão

Amor

Pode ser só uma ilusão
Talvez um quê de paixão
Só um capricho do meu coração
pode ser que não

Pode ser
que já estava traçado
pelos astros lá no espaço
lançado
no rastro de uma estrela
já escrito, demarcado
transcrito em linhas
nas veias da minha mão

quem sabe, não

Talvez logo acabe
nem deixe marcas
nem faça bater mais forte
meu louco coração
talvez seja fácil de esquecer
talvez
não tenha vindo pra me prender
talvez

Ou quem sabe, não!

Clepsidra

Água corrente
Sem tempo
Perene
Olhos ardentes
Videntes
Olhos da mente
Não mentem
Jamais